domingo, 5 de junho de 2016

warwick

Warwick recebeu mais tarde uma carta. O Homem-sem-nome descobrira o seu refúgio, brincando de Nessie num lago que mais parecia um penico. De um gigante. Mas um penico.
Homem-sem-nome ficara capturado pelo seu encontro. No mesmo dia perdera um pai, ganhara um meio irmão. Ganhara vários se queremos ser precisos. O vai e vem de viúvas e filhos únicos, aproximando-se e distanciando-se da gaivota putrefacta...contudo, só aquele, aquele como ele, sem mãe, sem ser sugado para o movimento da areia movediça dos sentimentos sem sentires.
Tinha havido uma conexão, um doer que em ambos doía. Ficara a sede, que só a um cedia. Warwick oferecera, sem disponibilizar.
Nada disso lhe importava.
Ele queria falar sobre a doença da morte, sem ser com ela.
Ela desaparecera um pouco antes do fim.
Dissera tudo quanto havia a dizer, com o seu corpo, o seu cheiro, as suas pálpebras fechadas numa mistura de confiança plena e desconfiança absoluta...ficara com saudades? Teria que sentir para sentir a falta. A falta não se inscrevera nele. Ficara só a constatação de um espaço.
Um vazio?
Não, um espaço. O espaço branco na cama. O espaço de quem conversa. O espaço de um espelho.
Warwick era um estranho espelho...ele percebera isso. Estranho, roto, descosido...mas um espelho.
Wawick, quer vir jantar cá a casa?
Disse que era uma carta, mas foi imprecisão minha, era um bilhete...um bilhetinho com selo.
No selo nem havia cuspo, era cola, daquela antiga com espuma na ponta, vomitando sempre um pouco nos dedos, oferecendo-se ao plástico da tampa e ali grudando para fascínio de alguma criança.
Para Warwick no entanto aquilo era uma perseguição, uma espionagem, uma confusão de algum tipo que jantar que porra nenhuma!!
Assustado comprou três garrafas de whisky, e abalou nervoso para casa de uns primos de quem não gostava, a quem não visitava jamais e que ninguém no seu perfeito juízo se lembraria que lhe poderiam ser alibi nessa fuga.

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