sexta-feira, 29 de abril de 2016

Do longo namoro que tenho com a outra Olga, há um momento que se destaca.
Ouvira falar das máquinas de fotos lomo, dias depois, ainda fascinada com tal descoberta saí na estação do Chiado. Esperava-me ali, porque só poderia ser para mim, uma exposição de fotografias lomo.
Sobre o branco do azulejo, que contrasta com o cinzento que não sabemos bem se existe ou não, cores se multiplicavam, movimentos se despiam.
Esta Olga que responde ao meu nome, ficou ali parada, indo para a frente e para trás, ligeiramente nervosa que alguém realmente pudesse vir e dizer-lhe: é para ti Olga, tu sabes, não sabes? Ou pior, que algum adolescente mais vivaço, ou alguma velha bordeando a psicose bruxesca, se chegasse bem perto de mim e dissesse: estás a achar que estão aqui, para ti? e soltasse uma gargalha com jeitos de tornado, e expusesse naquele branco todo as vísceras das minhas ilusões.
Tal medo tomou conta da Olga que era.
Sai rápida e nervosa, procurando o anonimato da luz do dia.
Dentro de mim eu sabia: era para mim, era por mim, era um sinal para que eu fosse a outra Olga.
A outra Olga que eu namoro, como sapatos de verniz em uma vitrina. Para ser ela, não há saldos, não há promoções, não há queima de estoque...diante tal valor, imediatamente me invadiu um nervosismo que desembocou em croiassant de chocolate...coisa que a outra Olga não faria.
Esse dia eu não esqueço, foi uma assustadora janela para a possibilidade de eu ser outra.

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