quinta-feira, 19 de maio de 2016

Filomena- parte III

Sabe Filózinha eu não sei porquê ele faz isso, tem vez que eu quero dormir, e não consigo, fico quieto só pensando porquê ele faz assim...uma hora sempre, mas uma hora Filó, de relógio digital, tá lembrada, daquele que muda o numero e pronto? Então ele faz assim, ou chega às 8.00 ou às 10.00. Ninguém nem vê ele dobrando a esquina, ou tomando café no bar. Ele aparece. Também não sei se ele mora longe ou perto, a Vanusa até que já perguntou para ele, mas ele esquiva a pergunta, olha para outro lado, fala de outra coisa, não responde não.
O Isaac, esse você sabe, outro mistério, até ja experimentou de ficar indo na lanchonete da esquina, sabe qual é, a que de quarta-feira não serve feijoada porque acha ruim para os vegetarianos, então, ele ficou lá desde 7.45 só esperando ver o Leandro aparecer, e o cara, o cara apareceu 9.59 do nada e cruzou a porta. Ainda levou maior bronca o Isaac, porque não saiu a fazer os recados na hora certa, você sabe que o Boris gosta que ele vá no banco logo às nove, porque não tem tanta fila. Esse Boris, vou-te falar, não sabe o que tá falando, todo o mundo sabe que correio é cheio demais quando começa o dia....
Foi falando cada vez mais estranho, sua voz ecoava na minha cabeça como dentro de uma embalagem de palmito de pupunha...o Zé trabalha num banco....porque é que eu não roubo o banco?Nunca ninguém me associaria ao crime, eu sou a costureira que cuida da casa, dos filhos, não tenho cadastro, não tomei nem multa, todo o mundo sabe que eu sou muito honesta, devolvo até carrete de fio quando a pessoa traz para eu usar e acabo não gastando tudo...Ninguém nunca nem pensaria que eu poderia fazer algo assim...será que eu preciso de ajuda? Acho que não, aí taria a genialidade do golpe, eu entro e saio todo o mundo me conhece, mas ninguém vai nem reparar que eu estou ali. Não posso falar nada para o Zé, ele não aprovaria nunca um roubo. E se aprovasse, daria bandeira, de certeza. Além do mais, há tanto tempo que eu não tenho um segredo...algo que não se diz para o marido, nem para a moça que faz a unha, nem às vezes, para mim mesma. Este é um segredo que eu não posso nem me contar muitas vezes, porque se eu me disser Filó vais roubar um banco, eu vou ficar pensando como seria essa Filó que rouba um banco? Soa até a filmes do faroeste, ou aquele do Batman...não parece muito real. Mas se eu não me disser nada, se eu ficar a Filó que sou sempre, e for costurando um plano como quem faz a dobra de uma saia, se eu for planejando como entrar e sair sem chamar à atenção, então pode dar certo. Uma coisa só daquela vez. Roubo o banco um dia e pronto. Como posso justificar o dinheiro para o Zé? Fico com ele só para mim, será que eu poderia deixar este homem? Ir embora com a Mari e o Amando? Será que eu sentiria a falta dele?Será que os meus filhos sentiriam a falta do pai? Será que o segurança me vê se eu entrar pela porta dos fundos? Terão câmara ali? Só tem um segurança?
Amor, e o moço que só vê com um olho, como é que ele se chama?

Nenhum comentário:

Postar um comentário